Giovana Fehlauer Sociedade Individual de Advocacia OAB/RS 5.310

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"Construir um relacionamento sólido passa por diversas intempéries e superações, entretanto, o que fazer quando você sente que nada mais faz sentido por dentro? Esperar um ano? Deixar que as coisas se resolvam por si só? Abrir mão do próprio desejo para satisfazer o do outro? Por quanto tempo? No tempo certo as respostas vêm e, generosamente, tudo se transforma."

Era 10 de janeiro de 2012. Perto das 17h. Uma tarde comum, idêntica às milésimas quando apoiava os cotovelos no parapeito de mármore da sacada e observava o pôr do sol, do tipo que só quem mora no interior conhece. Ainda posso sentir o clima sereno e bucólico. As crianças brincando na casa da árvore enquanto o crepúsculo pairava assumindo tons escuros na paleta celeste.


Tudo estava aparentemente encaixado, perfeito como planejamos, todavia, eu soubesse que dentro de mim não havia mais sentido algum viver tudo aquilo. Os jasmins não ajudavam mais no sono – como o floricultor garantira –, tampouco o lírio limpava do ambiente a densa tensão emocional. Foram mais de 20 anos casada com Sérgio.


Havíamos conquistado a vida que sempre almejamos; estávamos felizes e realizados, ele sempre dizia. É um contraste abismal; para ele, habitávamos em um amor monumental, embora uma construção logo sucumbe se os pilares forem rasos. A ideia de dividir Sérgio com o trabalho, nas eternas idas e vindas de reuniões e viagens inesperadas não me bastou para viver bem. Sua ausência me consumia por inteira.


| O vislumbre de uma estratégia


Persisti no braseiro para manter acesa aquela chama do início, mas não deu. A princípio duvidei de um divórcio. Nunca faltou nada em casa – sem nunca haverem maiores histórias de amantes –, como entenderiam a separação? Precisava saber quais as repercussões jurídicas implicadas. Recorri à uma advogada especializada em Direito da Família.


Viajei até outra cidade para o encontro. Conversamos por um longo tempo, e mal sabia que estaria adiando em um ano a decisão definitiva em dissolver meu antigo estado conjugal. Prestadas as informações relevantes, me despedi da advogada, admitindo antes: “Não tenho coragem”. Na hora pareceu certo preservar meus dois filhos de uma reviravolta tão profunda. Certas coisas, entretanto, nunca mudam.


Construímos juntos um patrimônio vultoso; enquanto ele administrava as demandas no trabalho, muito respeitado por todos na cidade, eu mantinha as coisas em ordem em casa e na família. Nenhum casamento perdura sozinho. Ainda assim, Sérgio tentou me culpar pelo fim e começaram as ameaças de me deixar na miséria, abandonada. Liguei novamente à advogada.


- Alô, Verônica? Quanto tempo!

- Oi... Agora estou preparada para fazer tudo o que você me falou ser necessário.


Assumi para mim mesma que não ia mais me conformar. Não teve outra, o conflito se estabeleceu e a ação foi ajuizada. Me sentia confiante e determinada. Minha advogada sabia o que fazer. Compartilhou comigo a estratégia de deslocar a competência do Juízo da cidade onde morávamos, visto que Sérgio detinha influência por causa da profissão; o bastante para possíveis embaraços no processo.


| O tempo certo para todas as coisas


Logo no início dos trâmites, foram fixados valores nada módicos a título de Pensão Alimentícia para mim e nossos  dois filhos. A cada etapa processual, um novo jeito de lidar com a pressão. Olhando para trás, vejo que para tudo há um tempo certo. Ao todo, a ação tramitou por um ano e quatro meses, quando minha advogada conseguiu  elaborar um plano de partilha equânime, que garantia exatamente o que o regime de bens estabelecia - metade de todo o patrimônio. Sérgio, enfim, concordou.


Jamais esquecerei o que ouvi dele na sala de audiências, por ocasião da ratificação do acordo: “Já lhe dei a metade do que era meu”, mas hoje entendo que ele estava perdendo o que não soube cuidar. Era, no jeito, o último desabafo.


Não imaginei o fim da nossa história de amor como foi, mas fico grata por termos encerrado aquele ciclo com serenidade, e pela convivência familiar mantida entre pai e filhos; sei que os dois foram e são nutridos por Sérgio daquilo que é imprescindível. 


Para mim, o maior aprendizado é que é preciso tempo para processar fatos e tomar decisões conscientes. Que o auxílio de uma profissional como minha advogada, faz toda a diferença. Ainda me pego voltando nas lembranças daquele parapeito na sacada de mármore. Percebo que agora, apreciar o pôr do sol nunca fez tanto sentido.


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Anônimo