Giovana Fehlauer Sociedade Individual de Advocacia OAB/RS 5.310

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"Foi no voto de casamento que jurei partilhar não só o meu dia-a-dia, mas os desafios e as conquistas também. Uma parte de mim poderia jurar que isso se manteria caso nosso casamento se desfizesse: que nós iríamos preservar a nossa história, independente do que acontecesse… mas parece que só de mim, se valeu o voto."


No início, era atenção, carinhos, promessas de uma vida juntos. Promessas de “tudo o que é meu, é seu”. O companheirismo, a cumplicidade e a honestidade foram fatores primordiais para que o próximo passo fosse dado.


Quando Flávia conheceu Fernando, e a paixão arrebatadora se fez presente, infinitos planos foram feitos. Planos do que poderia ou não acontecer. Nas milhares de hipóteses, eles ficariam juntos para sempre. Seriam um só.


Para Flávia, a vida se resumia a auxiliar Fernando, em tudo, para tudo.


Dedicou-se não só ao marido, mas a toda a sua família. Construíu relações familiares sólidas, que estiveram presentes em suas vidas ativamente. Aos domingos, o almoço era na Fazenda. Flávia tinha virtudes que encantavam os familiares de Fernando, deixava tudo impecável, era quem “coloria o ambiente”.


Tiveram dois filhos. Dois filhos incríveis. Tudo ia muito bem, até que em algum momento a vida conjugal se perdeu. Manias passaram a ser defeitos. Defeitos passaram a ser super defeitos. E o ruído que esses barulhos fazia na vida a dois, criara uma fissura irreparável. Cobranças de Fernando passaram a ser frequentes. Desconfianças também. Flávia não entendia.


Neste tempo, o patrimônio já era expressivo. A vida era confortável, mas não era o suficiente.


O dia D.


Para Flávia, a decisão do divórcio foi muito difícil.


Existiam duas crianças dependentes. Embora a vida, até então, fosse muito bem estruturada, afinal, viviam em um bairro nobre; a situação financeira poderia trazer uma queda no padrão de vida e poderia afetar mais ainda a relação com o, até então, marido. Enquanto Flávia tentava consertar o irreparável, pior ficava: dores, mágoas presidiam os dias e as discussões.


Até que Flávia cansou de se machucar, desistiu e colocou um ponto final.


Quando um não quer, dois brigam.


Atônita, Flávia se viu diante de uma situação jamais imaginada: estava sem Fernando, sem a família dele, que agora se impunha na defesa exclusiva do filho, e praticamente forçada a assinar um acordo de divórcio, cujos termos não entendia. Incrédula, buscou informações de outro profissional, pois o tio de Fernando não lhe passou a confiança que esperava. Percebeu que, após 10 anos de casamento, a sua participação era negada e parte insignificante do patrimônio que possuíam lhe foi dada.


Casaram-se em regime de comunhão universal de bens, porém, foi ludibriada por Fernando e toda sua família. A comunhão agora era de esforços múltiplos para que Flávia ruísse. Os filhos foram usados da forma mais cruel possível. O pai garantia que com ele teriam tudo, e com a Mãe a vida seria bem difícil.


Flávia, tempos depois, soube que fora vítima de uma armação familiar, o dinheiro valia mais que tudo para a família do ex-marido.


Naquele momento, Flávia buscou auxílio jurídico. Com perspicácia e competência, conseguiu-se anular o acordo. Um novo cenário se configurou. Agora seria o Juiz que decidiria. Anos se passaram, de intensa disputa judicial. A coragem de Flávia desafiou a astúcia da família de Fernando, que até então julgava-se imbatível. Período de intenso sofrimento, mas, compensado com a certeza de que se buscava a justiça, nada mais.


Mudança requer coragem. E mudança requer comprometimento.


A mudança aconteceu. Ainda que estivesse com o emocional debilitado, Flávia se pôs nas mãos de quem, realmente, lutava pelos seus direitos. Direitos esses, que a família de seu ex marido, a pessoa com quem dividiu sua vida, tentou tirar.


Tudo começou muito bem. O amor existiu, cumpriu sua promessa. Mas nem sempre a vida segue o curso que planejamos.


Flávia foi só mais uma das milhares de mulheres que não queriam que o casamento acabasse dessa maneira, mas o ciclo se encerrou e foi duro saber que a comunhão fazia parte só do imaginário dela. Enfrentar a situação com altivez foi o que a deu dignidade, inclusive perante os filhos que, ainda não conseguem ter a dimensão de tudo o que ela passou. Mas seu coração está em paz. A vida se encarrega de transformar o amor em outros amores...


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