Giovana Fehlauer Sociedade Individual de Advocacia OAB/RS 5.310

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"Ficar longe de quem amamos é um dos grandes pesares da vida, principalmente quando uma ação judicial obriga o afastamento decorrente da alienação parental. Sentimentos de impotência pela guarda podem vir à tona; contudo, é possível restaurar algo concreto quando já não se tem nada? Trazer de volta memórias que dão esperança pode ser um bom primeiro passo."

Ao sul de Porto Alegre, passando por Pelotas, já beirando o fim do estado, fica Arroio Grande. Nada diferente do restante dos interiores nas redondezas e com aquele inconfundível charme nostálgico que remete a outros tempos. Épocas saudosas, quando havia mais respeito pelos anciãos e a comida não era tão cara.


Esse tipo de saudade é gostoso de sentir. Traz ao paladar o sabor da infância e das doces memórias de fraternidade vividas. Quisera eu ter experimentado só este sabor, embora existam outros tons desse sentimento; do tipo mais amargo e frio. A saudade que aperta e machuca. A de doer no peito. Saudades do meu menino, Lucas.


Foi em Arroio Grande, no Distrito de Mauá, que vivemos juntos seus primeiros anos de vida, logo depois de me mudar de Porto Alegre. Foram anos felizes, graças à Deus. Levava ele comigo para caçar pescado e vender na feira; ele bebê, na cestinha, com o chocalho, eu com os materiais de pesca, e Valéria vindo atrás com a comida para o percurso.


Chegava no comércio, e antes de todos amealharem os peixes, faziam graça com a criança e ele adorava. Eu mais ainda. Ver aquele sorriso só com os dois dentinhos da frente era impagável. Morria e matava por ele. Isso tudo foi antes de Valéria conseguir a guarda e querer me escorraçar da vida do meu filho.


| O pior fim para um casamento


Valéria é mãe de Lucas, e uma ex-mulher vingativa ao ponto de mentir em Corte para Juíza e Promotora. Foi assim que fiquei afastado, por decisão judicial, do meu Lucas. Com ela, a história não deu mesmo certo. O casamento acabou, e entramos em divórcio consensual sem mais delongas, exceto o desgosto pelo rompimento.


Relutante, ela acatou os dias e horários regulados em audiência para eu visitar o menino, e também a quantia do auxílio financeiro. Notava um olhar inconformado, criando um silêncio pesado entre nós dois. Sabia que os problemas não iam acabar com a sentença do magistrado.


De volta a Arroio Grande, cidade natal de Valéria e Lucas, era sempre recebido com um humor seco e desculpas rápidas para impedir qualquer contato maior com meu filho. O próprio tempo revelara uma teia de dificuldades que por fim deixou-me incapaz de sequer chegar perto. Tive que apertar o cerco; não ia desistir fácil.


Houve um período desse processo que foi ladeira abaixo. Apelei à Justiça para aumentar os períodos de convívio, enquanto Valéria simultaneamente imergiu em condutas, que hoje sei, caracterizam atos de alienação parental. Uma das piores coisas com que se lida nas Varas de Família. Me acusava de ser agressivo; logo eu, pescador e calmo por natureza. Uma vez, chamou até a polícia.


| A chegada de uma amiga, assim hoje à tenho


Quando a Juíza e a Promotora se convenceram de que eu devia permanecer afastado de Lucas, pensei que fosse o fim. Tinham até estudo social e relatório do Conselho Tutelar atestando a decisão. Fiquei um ano e cinco meses sem contato algum com Lucas; lembro hoje com lágrimas... seriam os meses que teria comprado as primeiras varas de pesca e ensinado como usar isca para pegar bagre.


Desolado, sabia que não ia conseguir sozinho. Decidi buscar ajuda especializada e encontrei a advogada perfeita. De início, contei minha história e quando terminamos vi que ela ia me defender da forma que merecia, como Lucas merecia. A data da audiência foi marcada pela Juíza, dia em que as partes e os profissionais seriam ouvidos.


Aquela seria a chance de mostrar o que Valéria realmente havia feito, como eu estava sendo alienado e como seus atos foram danosos. Minha advogada definiu precisamente as perguntas, e, a cada resposta, Juíza e Promotora ficavam perplexas e eu, esperançoso. Os semblantes apontavam para uma resolução próxima.


No fim, restaram evidenciadas as condutas de Valéria em me desqualificar e usando nosso filho como vingança pelo desenlace conjugal. Passadas quatro horas de sessão, a Julgadora proferiu a decisão dizendo que eu finalmente podia estar com Lucas e ainda no mesmo dia. Desci as escadas do Fórum quase tropeçando de felicidade porque não queria perder mais nem um segundo.


Minutos depois, avistei minha advogada sentada na praça, naquela tarde inesquecível, enquanto nos olhava; eu e Lucas junto ao meu cangote. Acenei e agradeci por tudo. Ela havia conseguido. Me faltam palavras para descrever o que senti.


Uma nova rotina de encontros marcados no calendário com Lucas se descortinou. Às vezes me pego com os olhos marejados, com saudade de como as coisas eram. O melhor de tudo é saber que aquele gosto amargo ficou para trás. Quando Lucas chega, não há nada que se compare, e aí eu lembro de como vale a pena lutar pelas doçuras da vida.

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